Distrito de Vila Negri
VILA NEGRI - SAPEZEIRO
Milve Peria
Você leitor, sabe onde fica a antiga localidade conhecida por “Sapezeiro” e qual é a sua denominação atual ?
Inicialmente, vejamos qual o significado do termo “sapezeiro”: No dicionário encontramos “sapezeiro ou sapezal” – sm. campo de sapé. Já o termo “sapé ou sapê” – sm (tupi iasapé) 1 Bot. Nome genérico de diversas plantas gramíneas, muito usadas para cobertura de cabanas ou de casas rústicas. Conclui-se que o local era propício para esse tipo de vegetação.
Respondendo à pergunta inicial, dizemos que o antigo povoado de Sapezeiro é a atual Vila Negri.
Sempre tive curiosidade de conhecer um pouco da história dessa próspera localidade, mas não conseguia registros históricos. Valemo-nos de um artigo escrito pelo saudoso historiador José Romanelli. O título do artigo assinado pelo nosso Emérito Historiador é: “Lembretes Históricos do Município – Anotações sobre Vila Negri”. O Historiador reporta-se ao discurso que (ele) proferira “na tarde do dia 16 de dezembro de 1956, naquela localidade, quando foram apostas nos logradouros públicos as placas em homenagem aos fundadores daquele burgo”.
O Historiador relata que “a proposição legislativa de conferir-se aquela homenagem partiu do nobre vereador vice presidente da Câmara, Dr. Geraldo Cassoni e aprovada por unanimidade, foi encaminhada ao Executivo então a cargo do prefeito Dr. Francisco de Arêa Leão que converteu em Lei sob o nº 56, na data de 16 de novembro de 1949”. Por se constituir num documento histórico, transcrevemos o texto do citado Diploma legal:
“Lei nº 56, de 16 de novembro de 1949 – Dispõe sobre a nomenclatura das vias públicas do sub-distrito de Vila Negri.
O Doutor Francisco de Arêa Leão, Prefeito Municipal de Taquaritinga, usando das atribuições que lhe confere a lei. Faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - Passa a via longitudinal, da localidade de Vila Negri, deste Município, a denominar-se RUA SALVADOR PASSAFARO.
Art. 2º - As vias transversais, dessa mesma localidade, denominar-se-ão a primeira: RUA MANOEL MARTINS PEREIRA e a segunda: RUA FRANCISCO NEGRI.
A Lei está assinada por Dr. Francisco de Arêa Leão, Prefeito Municipal e por Reinaldo Pinseta, Secretário da Prefeitura.
Mas, a solenidade pública só veio a ocorrer no dia 16 de dezembro de 1956, na gestão do prefeito Dr. Ademar Carvalho Gomes, durante as festividades religiosas em louvor de Santa Luzia, padroeira de Vila Negri.
Os homenageados foram Francisco Negri, Salvador Passafaro e Manoel Martins Pereira. Continua o Historiador: “Foram esses homens que abriram as primeiras tendas de comércio, as primeiras indústrias para o beneficiamento dos produtos agrícolas. Foram esses homens que construíram os primeiros ranchos para as moradias rústicas do velho Sapezeiro. . .”.
Francisco Negri era natural da Província de Mantova (Itália). Para aqui se transferiu nos primeiros anos do século XX (1900), iniciando a cultura do café “. . .em terrenos que circundam este patrimônio que tem hoje o nome de sua família – Vila Negri – em razão de ter doado a área de terras deste patrimônio”. Daí a justiça dessa denominação, bem como o mérito de ter-se conferido seu nome a uma das vias públicas locais”. Portanto,, segundo o relato do Historiador, Francisco Negri é reconhecido como o fundador de Vila Negri.
O outro homenageado foi Salvador Passafaro, natural de Catanzaro, na Região da Calábria (Itália). Nascido em 1874, contando com apenas 20 anos, emigrou para o Brasil . Aqui radicado desde 1908, quando aportou à então Vila de Jurema, a atual Jurupema. Ali permaneceu até 1915, onde se dedicou ao ramo do comércio, quando se transferiu para Sapezeiro, instalando sua “venda” , já prenunciando o surgimento de um novo povoado. Complementa o Historiador: “. . . incansável batalhador que foi Salvador Passafaro, o primeiro comerciante de Vila Negri”.
O outro pioneiro foi Manoel Martins Pereira que além de dedicar-se à lavoura, teve a iniciativa de implantar no povoado uma máquina de beneficiar café, lá pelos idos de 1914 e que também se dedicou às atividades comerciais. Descendente de Portugal, muito jovem, veio para o Brasil, aportando no Ribeirãozinho, no ano de 1889. Inicialmente, radicou-se no distrito de Jurupema, depois transferindo-se para o povoado de Sapezeiro. Foi homem de grande atividade e grande prestígio social e político. Desempenhou as funções de sub-prefeito e de Juiz de Paz de Jurupema. Faleceu em 1939, aos 64 anos de idade.
Como vimos, Francisco Negri doou o patrimônio e abriu as primeiras culturas de café. Salvador Passafaro implantou o “comércio com a sua venda de secos e molhados” e Manoel Martins Pereira implantou a primeira indústria, uma máquina de beneficiar o mais rico produto que ali era produzido, o café.
Os mais antigos registros escritos que localizei datam do ano de 1926. Nessa época circulava em nossa cidade um jornal denominado “Jornal de Taquaritinga”. Faziam parte do município, além da sede, mais os distritos de Guariroba, Santa Ernestina, Cândido Rodrigues, Jurema (atual Jurupema) e os povoados de Sapezeiro, Carlos Magalhães, Icoarana, Agulha. Além dos distritos e dos povoados existiam bairros espalhados pelas fazendas, onde também estavam instaladas casas comerciais.
O citado “Jornal de Taquaritinga”, em sua edição de 25-4-1926, fez vários registros que se constituem em registros históricos. O prefeito era Dr. Jacinto de Souza (14-01-1924 a 4-9-1928), advogado, fazendeiro e chefe político local. A Coletoria Estadual fez publicar um edital para conhecimento da população sobre o lançamento do “Imposto de Indústria e Comércio”, relacionando os nomes dos comerciantes e industriais do município. No povoado de Sapezeiro estavam relacionados os seguintes nomes:
Affonso R. Costa – botequim Ângelo Egydio - botequim
Antonio Amâncio de Oliveira – farmácia Luiz Benati – farmácia
Quinto Pinotti – maquina benef.café Rômulo Zerbini – secos e molhados
João Scandar – secos e molhados Luiz Zerbini – açougue
Lourenço Marcola – secos e molhados Luiz Patini – aves
Jorge Sartóri – sapataria Manoel Martins – secos e molhados
Miguel Ospedale – secos e molhados Rômulo Zerbini – secos e molhados
Salvador Passafaro – botequim Giacomo Peroni –secos e molhados
Caetano Martins e Irmão – secos e molh. Salvador Rizzo – sapataria
Grupo Escolar Rural
Outro registro histórico data de 1º de outubro de 1945, quando uma Comissão formada por moradores de Vila Negri foi recebida pelo então Governador do Estado, Dr. Fernando Costa, no antigo Palácio dos Campos Elíseos, sede do Governo paulista, ocasião em que o Governador assinou um decreto criando o Grupo Escolar Rural de Vila Negri. A Comissão era composta pelo professor Lupércio Camargo e os moradores da localidade Francisco Arnoni, Alécio Borelli, Emilio Verri, Caetano Martins Pereira, Alcino Arnoni e Augusto Rossato. Criado o Grupo, a Comissão continuou seus trabalhos, agora visando a construção do prédio para abrigar a Escola. Arrecadaram importância suficiente para a compra de uma área de terras, cuja finalidade era fazer a doação desse terreno ao Governo do Estado onde seria construído o futuro Grupo Escolar Rural. A vendedora do terreno foi D. Maria Magri, conforme recibo assinado em 6 de agosto de 1946, pela importância de Cr$ 19.000,00 (dezenove mil cruzeiros). Não conseguimos a relação dos doadores das importâncias.
Extensão da rede de energia elétrica para a Vila
Já em 1958, os moradores reivindicavam um sistema de energia elétrica mais eficiente, visto que o que vigorava não atendia as suas necessidades.
Os vereadores Annur Felippe Gabriel, Daniel Marques e Antonio Domingos Pinseta apresentaram um projeto de lei à Câmara Municipal, em 1º de julho de 1958, abrindo um crédito especial, no valor de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros), destinados a custear as despesas com a extensão da rede de energia elétrica a Vila Negri, fornecida pela Companhia Paulista de Força e Luz. Uma centena de moradores da localidade assinara um requerimento pleiteando essa benfeitoria. Por se constituir num documento histórico, onde estão representadas famílias que deram sua parcela para o desenvolvimento da nossa querida Sapezeiro – Vila Negri, registramos os seus nomes:
Aguiar – José Pedro Almeida – Joaquim de Almeida – Pedro de
Arnoni – Francisco Arioli – Primo Angeli
Argento Borghi – Neco Borghi – Irineu
Borghi – Ambres Baldão – Luiz Baldão – Pedro
Bombarda – Santo Bonelli – Antonio Balotari – José Severino
Belucci - Bordine Berri
Bertacini Boschini – Hercules Bertoletti – Florindo
Boneli – José Borghi – Victorino Bigolotti – Ernesto
Bissi – José Bombarda – Hélio
Baraldi – Pedro Carli – Antonio José de Carli – Primo de
Carli – Deoclides de Carli – Sidney Correia – Antonio
Corrêa – José Alves Crema – Osmar Gioconda Cremma – Horácio
Carqui – Germano Consolo – Nestor Consolo – Mariano
Cherubim – José Corá – Aldemar Casati
Chimelo Delboni – Antenor Delliciai – Natale
Delmiglio – Francisco Fumagali – Domingos Furlanetto
Gavioli – João Gavioli – José Gibertoni – Nagib
Gagliardi Giroto Martins Pereira – Wilson
Martinho – Horácio Martinho – Alcebiades Morseli – Walter
Manaia – Joaquim Malaman Mantovanelli
Molinari Negri – Olívio Negri – Hugo
Negri – Oswaldo Negri – Guerino Negri – Alfio
Negri – Paulo Oliveira – Pedro Ramos de Oliveira – João Ramos de
Oliveira – Luiz Ramos de Pinotti – Delpito Pinotti – José
Perroni – Paschoalino Passi – Alicir Passi – Dorival
Passi – Antonio Pereira – Elpídio A. Pio – Adelino Martins
Pincetta – Altino Antonio Piccinini - João Paulino – José
Porri – Domingos Pinseta – Lino Paula Ferreira – Francisco
Paulino Pavarina Quina de Aguiar – Osvaldo
Quina de Aguiar – Eduardo Quina – Laor Regatieri – Nelson
Rissi – Carlos Rocha – Geraldo da Rebechi
Ronchi Silvestre – Antonio Serafine – Temitroche
Soares – Antonio Sartori Truzzi – Olívio
Truzzi – Vicente
O objetivo principal desta crônica foi o de deixar registrado o nosso profundo reconhecimento ao insigne Historiador (com H maiúsculo) José Romanelli que, com sua generosa pena nos deixou registrado os mais longínquos escritos que temos sobre a história do povoado de Sapezeiro – nossa atual Vila Negri, homenageando os seus pioneiros, Francisco Negri, Salvador Passafaro e Manoel Martins Pereira. Mas não foram apenas esses três pioneiros que fizeram a glória de Vila Negri. Muitas outras famílias contribuíram para que isso ocorresse e que mereciam ser lembradas, como fizemos no tópico acima.
Nosso reconhecimento ao povo de Vila Negri por nos ter permitido de fazer estes registros. Obrigado e parabéns.
Milve – março/2014