Distrito de Guariroba

por administrador publicado 28/09/2021 15h25, última modificação 28/09/2021 15h25

HISTÓRIA  E  ESTÓRIAS  DE  GUARIROBA

Milve  Peria

O local onde está encravada a comunidade de Guariroba era conhecida mesmo antes da fundação de Taquaritinga  (1868).  Expliquemos:  a região já era explorada , pois, ali nas proximidades habitava a Família Capa Preta, proprietária de grande extensão de terras.   A matriarca da Família Castilho, que se chamava Maria Francisca, apelidada de “a mulher da capa preta” – que deu origem à alcunha “Capa Preta” – juntamente com seus filhos e agregados, instalou-se à beira de um riacho e ali passou a cultivar diversas culturas, além da criação de gado e suínos que se reproduziam ao largo.   Pela grande concentração de suínos à beira do riacho, o local ficou conhecido como Ribeirão dos Porcos, denominação pela qual é conhecido até nossos dias.  Além da criação de gado bovino, muares e suínos, outras atividades eram desenvolvidas na propriedade do Capa Preta.  Ali se constituía num ponto de passagem obrigatória, pois o local era utilizado como “pouso de tropeiros”.

Há um outro fato histórico, pouco conhecido, que está vinculado à localidade de Guariroba.  Isso ocorreu lá pelos idos de 1867, mais precisamente nos dias 21, 22 e 23 de julho, quando por ali passou a comitiva do Visconde de Taunay que retornava da “Campanha do Paraguai” (Guerra do Paraguai), onde integrou a coluna que combateu em terras paraguaias.  Quando retornava dos campos de batalha, Taunay registrou sob a forma de diário todas as passagens da viagem de retorno.  Esse registro escrito, certamente, se constitui na referência mais longínqua  que temos de nossa cidade, de nossa região.  O relato está registrado no livro “Céus e Terras do Brasil” – autor Visconde de Taunay, Edições Melhoramentos – 9ª edição – 1948, sob o título “Viagem de regresso de Mato Grosso à Corte” págs. 108 e 109.

Taunay relata a sua passagem pela propriedade do Capa Preta, tendo ali saboreado o delicioso biscoito “brevidade” . Registra também que cruzou o Ribeirão dos Porcos que naquele momento estava transbordando.

Mas, o quê nos leva a essa reflexão ? Por que estamos tecendo considerações sobre a localidade denominada Guariroba ?

Tenho o privilégio de desfrutar da amizade de uma pessoa muito especial.  Não obstante seus 86 anos, desfruta de boa saúde, lúcido, sempre bem humorado.  Estou falando do sr. Jeremias Gonçalves, descendente de conceituada família dos Gonçalves de Guariroba.   Sr. Jeremias me fez um relato, contando um pouco da história de sua família que se confunde com a própria história daquela localidade.

O surgimento do povoado onde atualmente está localizado aconteceu do cruzamento da estrada que ligava o então Ribeirãozinho à localidade de Boa Vista das Pedras, ou seja, a estrada municipal entre Taquaritinga e Itápolis.  Essa estrada veio  juntar-se   a outra que já existia que ligava as fazendas (as propriedades agrícolas).  Esse caminho rústico era conhecido por “o picadão do Capa Preta” aberto na mata fechada que dava acesso à propriedade do Capa Preta, que ficava nas imediações dos bairros São João, Barra Mansa, Agulha Tapinas, visto que se tratava de uma grande extensão de terras, que abrigava em seu interior todas essas localidades mencionadas e outras mais.     No cruzamento dessas duas estradas foi construído um casebre com paredes de barro batido, coberto de sapé que servia de residência e de uma “venda” onde eram comercializados “secos e molhados”.  Esse local onde estava instalado o armazém era conhecido por “cabeceira” , pois nesse ponto mais elevado havia uma nascente de água.  Os habitantes que residiam, em sua maioria, na parte mais baixa, próxima da via de acesso à propriedade do Capa Preta, subiam até a “cabeceira” para fazer suas compras.   Ao redor dessa casa, começaram a surgir outras e, em pouco tempo já se transformava num pequeno vilarejo, conhecida pelo nome de “Cabeceira”, por estar localizada próxima da nascente do riacho.

Por volta de 1890, aporta a esse local um verdadeiro empreendedor: José Pires de Góes, que viera da cidade de Araras (SP)  Ali  adquiriu uma grande extensão de terra e  fixou residência, mais precisamente  onde atualmente está instalada a Indústria “Killes”. Em sua propriedade estava instalada uma roda d´água que movimentava uma verdadeira indústria: monjolo, moinho de fubá, fábrica de aguardente, olaria, além das culturas de café, cana de açúcar, algodão, etc. 

Aqui nesse ponto retornamos ao início de nossa narrativa.  O nosso amigo Jeremias Gonçalves é neto de José Pires de Góes.   Seu avô, José Pires de Góes, historicamente, é considerado um dos fundadores daquela comunidade.  Era pessoa religiosa e sendo devoto a São Pedro fez uma doação de terras para ali ser construída uma capela em louvor ao Santo de sua devoção.  Doou, também, uma área onde foi construído o cemitério.   Atualmente, o sr. Góes tem seu nome perpetuado na principal praça da localidade, a praça da Matriz, ornamentada  com  busto do homenageado, peça essa   confeccionada e doada pelo artesão Ricardo de Lucca.

Por volta do ano 1900, muitas fazendas haviam sido abertas, onde predominava a cultura de café, que exigia considerável volume de mão-de-obra, obrigando os fazendeiros a contratarem trabalhadores, construindo casas, formando verdadeiras “colônias” nas propriedades rurais para abrigar essas pessoas.

Criação do Distrito - A vila crescia.  Já se transformara num povoado com dezenas de casas.  Pela Lei Estadual nº 1.606, de 31 de outubro de 1918, foi criado o Distrito com  o nome de Guariroba.  Era prefeito o major Francisco Florêncio da Rocha.  A área era de 142 km.quadrados e tinha uma população de, aproximadamente, 2.000 habitantes.

Divisas do Distrito – A Lei Estadual nº 1606, de 31-10-1918 que criou o Distrito também fixou suas divisas: “. . .começam na cabeceira mais alta da córrego Água Limpa e descem por este até a sua confluência com o Ribeirão São Lourenço;  continuam por este abaixo até a barra dos córregos Lageadinho Novo e Lageadinho Velho;  por este acima até a cabeceira mais alta  e daí ao cimo do divisor  das águas dos ribeirões São Lourenço e dos Porcos e, tomando à esquerda por este prosseguem até alcançar a cabeceira do córrego  São João (primeiro que verte à direita e vai desaguar no Ribeirão dos Porcos), cerca de dois quilômetros acima do ponto em que é atravessado pela antiga estrada do Itapura;  por este córrego abaixo até ao Ribeirão dos Porcos;  por este acima até a linha limítrofe da fazenda Itagaçaba com as fazendas Barra Mansa e Guariroba e daí até ao ponto em que tiveram início.”

Cartório de Paz e Registro Civil – Com a criação do Distrito foi também criado e instalado o Cartório de Paz e Registro Civil, “. . . para o fim de atender os interessados residentes neste distrito, que por força de lei ficaram obrigados a procederem os registros de óbitos, nascimentos e publicarem os proclamas de casamentos.” O Escrivão era o sr. Avelino de Campos Negreiros.  Estavam inscritos como Juízes de Paz (Casamentos) os srs. Joaquim da Costa Oliveira, Augusto Antonio Gonçalves e Lino Gomes de Sá e como suplentes Antonio Nunes da Silva (pai do Dr. Adail Nunes da Silva, avô do Dr. Flávio, Tato, Augusto), José Alves Pereira e Venez Ricardo de Oliveira.

Homenagem aos antigos moradores – A praça principal e as diversas ruas que compõem o traçado do Distrito homenageiam antigos moradores que contribuíram para o engrandecimento daquela comunidade: Augusto Antonio Gonçalves,    Ernesto Fioravante,  Firmino   Antonio   Gonçalves,    Henrique   Bassoli,  Henrique  Guidorzi,     José Pires de Góes,  João  Previdelli,  ,  Ricieri Micali,  além de outras famílias tais como Turra, Azevedo, Papassidro, Argento e muitas outras.   Henrique Bassoli era natural da Itália, de onde veio como imigrante, tendo chegado no Brasil por volta do ano de 1895.  Um de seus filhos, de nome Eitel, é pai do conceituado advogado Dr. José Claudine Bassoli.   Portanto, Dr. Bassoli é neto do sr. Henrique.

No ano de 1957, o então vereador Jether José Lui apresentou projeto de lei dando nomes às ruas do Distrito, que se transformou na Lei nº 247, de 15-10-1957, a saber:

“a) – a atual rua do Comércio, denominar-se-á João Previdelli;

“b) – o largo da Igreja, Praça José Pires de Góes;

“c) – a atual rua de Tapinas, Augusto Antonio Gonçalves;

“d) – a rua que demanda o cemitério, Pedro Chiarotti;

“e) – a rua transversal à Rua João Previdelli, Rua Ricieri Micali;

“f) – a rua paralela à Ricieri Micali, Ernesto Fioravanti

“g) – a rua que dá comunicação da Praça José Pires de Góes com a Rua Augusto Antonio Gonçalves, denominar-se-á Rua Henrique Bassoli.

               Sala das Sessões, 15-10-1957”.

Banda de música – Guariroba é uma terra de músicos. Lá pelos idos de 1930, 40, possuía uma banda que se destacava por toda a região.  Chamava-se “Banda Musical Leon Cavallo” e houve uma época que era dirigida pelo maestro Antonio Nascimento e, posteriormente, por seu filho Edmundo Nascimento que trabalhava como servente do grupo escolar.

Time de futebol – A localidade se orgulhava de seu time de futebol, que tinha como dirigente e treinador Mauro Piva, pai do saudoso professor Ângelo Golfredo Antonio Piva.

Atualmente, Guariroba se destaca pela festas em louvor ao  seu Padroeiro São Pedro, que se realizam todos os anos no mês de junho.

 

No texto que transcreve a lei que criou o Distrito faz menção a “Estrada de Itapura” – O quê se deve entender por estrada de Itapura: Antiga estrada que cruzava o Estado de São Paulo, que tinha como ponto final a Colônia Militar de Itapura, construída nas proximidades do salto de Itapura em meados do século XIX (1858) pelo governo Imperial, na margem esquerda do Rio Tiete, próximo da foz do mesmo no Rio Paraná.  Após a Guerra do Paraguai a Colônia Militar de Itapura deixou de ter tanta importância estratégica.  Com o avanço da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil foi inaugurada em 1911 a Estação Itapura onde efetuava a travessia do Rio Paraná através de ferry boat com a estrada de ferro que se dirigia a Corumbá.

 

 

 

   LUZ ELÉTRICA  PARA  GUARIROBA  E  VILA  NEGRI

O “Nosso Jornal”, em sua edição de 30-08-1959 – nº 635 -, registrava a seguinte matéria: “NOTÍCIA AUSPICIOSA – O Deputado Federal Dr. Francisco Gomes da Silva Prado (Bile), ainda quando candidato, solicitou e conseguiu do Governo Jânio Quadros, uma verba de Cr$ 1.625.000,00 para a instalação de luz elétrica em Guariroba e Vila Negri.   Não obstante a verba acima ter sido conseguida na ocasião, somente agora foi ela entregue ao Dr. Pedro Perotti, Prefeito Municipal que já tomou as providências necessárias para a realização dos serviços nas aludidas localidades.”

 

O mesmo semanário “Nosso Jornal”, em sua edição de 29-11-1959, noticiava que “na sessão da Câmara Municipal de 16-11-1959, no tema “Explicações Pessoais”, o vereador Jether José Lui solicitou seja enviado ofício ao Prefeito Municipal, no sentido de ser iniciado o serviço da rede de energia elétrica do distrito de Guariroba”.  

O texto acima cita o vereador Dr. Jether José Lui. Profissionalmente, exerceu a profissão de dentista no Distrito de Guariroba. Foi vereador da Câmara Municipal, na legislatura de 1956 a 1959.  O prefeito municipal, na época, era o Dr. Ademar Carvalho Gomes, mais conhecido por Dr. Mazinho.  O governador do Estado era Jânio Quadros. Dr. Jether liderou um movimento que visava a instalação da rede de energia elétrica no Distrito. O trabalho desenvolvido foi vitorioso e o município conseguiu do governo do Estado a verba para a extensão da rede elétrica até o bairro.

O levantamento topográfico foi feito pelo agrimensor Luiz Lemos do Val – Lulu do Val. De posse do levantamento, Jether percorreu todos os proprietários agrícolas para conseguir as assinaturas, concordando ceder a faixa de terra a título de servidão por onde seriam estendidos os postes e a rede de transmissão. Chegada a verba, foi feita a distribuição dos postes.  Jether, com o seu trator, ajudou a puxar os postes entre as propriedades rurais.

 
Milve – março/2014